19 de setembro de 2010

Cíclico

                                                              Imagem: Travessa Literária


Grande bosta, ser poeta!
Juntar palavras e as dizer
Grande merda!
Não me têm levado a nada.

É o meio que eu acho de ser sincero
Mas não me têm acreditado
É o meio que eu acho de dizer “te amo”
Mas não me têm correspondido.

Cessem os elogios
Poesia é para poucos!
Dentre os quais não estou eu.
Sou egoísta, egocêntrico, egofóbico
Sou doido no sentido mais amplo da doidice.

Apaixono-me por todas que não estão dispostas
A apaixonar-se por mim
É ciclo
Sou um ser humano cíclico
Mais cíclico que a água

Estou cansado desta peça!
Dêem-me outro roteiro, por amor de Deus!
Dêem-me outro papel, pelo menos.
Cansei de ser o pseudo-bonzinho,
Que sempre se lasca no final.
E quantos finais já houve!

Sinto falta disso...
Queria ser o diretor
Queria escolher os papéis
Tudo correria bem, ao menos pra mim

Mas escolhi não escolher

Epopéia maldita
Meu verso e o dela
E o de todas as outras
Em nada nunca rimaram

É provável, esta coisa
É provável que eu só sirva pra vaguear
Que não há, pra mim, um par
É provável...
Esta mendicância de afeto
Esta carência de invasores...
Cíclico!


Ontem, após deitar e antes de fechar os olhos
(e nisto houve longuíssimo período)
Pude prever todo o meu futuro
E, do que vi, não gostei nada nada...

Sempre mais do mesmo.

 Julho de 2010

14 de setembro de 2010


Amanda ficou pensativa e falou como se estivesse sozinha na sala:

- Minha vida com o Marco foi uma tragédia. Os homens não podem nos aceitar como somos. Estão sempre querendo nos transformar. Quando conseguem, e a mulher se adapta, se modifica, aí os miseráveis entram em parafuso, ficam possessos, gostariam que ela não fosse mais aquilo em que a transformaram. O ideal seria que a mulher voltasse a ser exatamente como era no tempo em que se conheceram.

- Como é essa história?

- Esquece. Deixa pra lá. Os homens só dão aborrecimento, sabia? – Amanda soltou uma gargalhada. – Todas as mulheres que conheço adoram se chatear, têm um lado masoquista, só estão felizes quando estão infelizes. Eu também. Eu me incluo nesse grupo. Por que você está me olhando com essa cara de espanto?

Leonardo riu:

- Estou me lembrando daquele personagem do romance de Roberto de Aquino, aquele professor de matemática que vivia de porre e dizia a toda hora que, numa equação, num problema, a mulher é sempre a incógnita. Quem se envolve com uma entra um labirinto do qual nunca mais conseguirá sair. Você já ouviu falar na linguagem dos pássaros?

- Que diabo é isso?

- É uma dessas teorias orientais. De acordo com a linguagem dos pássaros, os relacionamentos entre homem e mulher se processam inevitavelmente em sete etapas: busca, encontro, alegria, deslumbramento, dependência, demência e desenlace. Desenlace, no caso, quer dizer a morte. Quem não tiver consciência dessas sete fases e se deixar envolver termina se estrepando.

- Babaquice, Léo. Babaquice.”

NASCIMENTO, Esdras do. A Dança dos Desejos, opus 13. A Girafa, 2006.