17 de setembro de 2012

Atormentado


Imagem: Orestes atormentado pelas fúrias. Adolphe William Bouguereau 



Atormentado
Pelos fantasmas
Do escuro do meu ser

Me ser
É ser fantasma em vida
É assombra-se a si mesmo no espelho
Ou fora dele
É fazer tremer o ser e o estar
É estar
Em total desarmonia com o universo

Atormentado
Por mim mesmo
E pelos monstros que eu crio
E me criam
Com a dúvida de ração

Fernando Lago - 17 de Setembro de 2012 

13 de setembro de 2012

Poema nada nada linear




Sei como é
Perdeste a fé
Peregrinaste pelo mundo invisível
Buscando algo que não se pode achar
Vamos lá
Sabemos, eu e você
Que tudo nessa vida é ilusão
E todos nós podemos ir de encontro aos nossos próprios fins
Na ânsia de escutar o que nos manda o coração

Lá vem vida!
Lá vem morte!
Puta azar ou puta sorte?
Sabe lá!
Cansei de esperar
Cansou-me a bunda de estar sentado
Vou levantar
(ou levantar-me-ei, que tenho gosto refinado)
Esticar os ossos e os músculos
Ensaiar poses para ser fotografado
Fazer careta para criancinhas meigas
Passar a perna em pessoas leigas
Sei lá!
E quem lá saberá?
Este globo quadrado
Vida monótona e escrota
Mas que fazer, se não há outra?
Vem cá, meu bem
Pegue minha mão
Olhe-me com carinha de carinho
E de uma vez admita que nossa vida está uma merda
E eu na rua observo a gente lerda

Sento na janela
(sim, sento no parapeito da janela)
Você me recrimina pela infantibilidade do ato
E eu, conhecedor do seu caráter
Não fico nada, nada estupefato.
Você, porém
Moça acostumada com as pancadas da vida
Sente-se um pouco assim ignorada
E me empurra da janela ofendida
Do chão
Do lado de fora da casa
Olho para o alto e vejo seu riso maldoso
Um tiquinho de filosofia na sobrancelha


Álcool nas feridas dói um pouco
Dedo na ferida mais ainda
Mas que se há de fazer, minha linda?
Há feridas e há alcoóis
E há dedos impiedosos
Mas no mundo há coisas boas também
Existem elementos maravilhosos
E posso vê-los todos em seus olhos...

Fernando Lago – Janeiro de 2010