30 de outubro de 2012

Plebes cito

Imagem: Leonardo da Vinci (claro!). 

De quantos nadas fui feito?
Quantos vazios empilhados para erguer as paredes
De mim?


De quantas inércias viera minh’alma?
E que brisa suave de tornado veio me encher a vida
De um nulo pensar?

De que frutos pecos vieram as minhas vitaminas?
De que odores surgiram a minha respiração?
De que mundo veio meu mundo?
De que pedra esculpiu-se
O meu coração?

Fernando Lago – Outubro de 2012 

10 de outubro de 2012

Isla



É sem querer
Que muitas vezes falo
O que quero
E acabo por querer não ter querido
Ser querido ou querer que me quisessem

O jogo que se joga com as palavras soltas é
Desplanificadamente perigoso

Solto os grilhões das letras
E os uso para trancar a minha voz
Só me falta liberar os grilhões que me prendem a razão
E usá-los para aprisionar os sentimentos
Que governam essa ilha que eu sou 

Fernando Lago - Agosto de 2012  

17 de setembro de 2012

Atormentado


Imagem: Orestes atormentado pelas fúrias. Adolphe William Bouguereau 



Atormentado
Pelos fantasmas
Do escuro do meu ser

Me ser
É ser fantasma em vida
É assombra-se a si mesmo no espelho
Ou fora dele
É fazer tremer o ser e o estar
É estar
Em total desarmonia com o universo

Atormentado
Por mim mesmo
E pelos monstros que eu crio
E me criam
Com a dúvida de ração

Fernando Lago - 17 de Setembro de 2012 

13 de setembro de 2012

Poema nada nada linear




Sei como é
Perdeste a fé
Peregrinaste pelo mundo invisível
Buscando algo que não se pode achar
Vamos lá
Sabemos, eu e você
Que tudo nessa vida é ilusão
E todos nós podemos ir de encontro aos nossos próprios fins
Na ânsia de escutar o que nos manda o coração

Lá vem vida!
Lá vem morte!
Puta azar ou puta sorte?
Sabe lá!
Cansei de esperar
Cansou-me a bunda de estar sentado
Vou levantar
(ou levantar-me-ei, que tenho gosto refinado)
Esticar os ossos e os músculos
Ensaiar poses para ser fotografado
Fazer careta para criancinhas meigas
Passar a perna em pessoas leigas
Sei lá!
E quem lá saberá?
Este globo quadrado
Vida monótona e escrota
Mas que fazer, se não há outra?
Vem cá, meu bem
Pegue minha mão
Olhe-me com carinha de carinho
E de uma vez admita que nossa vida está uma merda
E eu na rua observo a gente lerda

Sento na janela
(sim, sento no parapeito da janela)
Você me recrimina pela infantibilidade do ato
E eu, conhecedor do seu caráter
Não fico nada, nada estupefato.
Você, porém
Moça acostumada com as pancadas da vida
Sente-se um pouco assim ignorada
E me empurra da janela ofendida
Do chão
Do lado de fora da casa
Olho para o alto e vejo seu riso maldoso
Um tiquinho de filosofia na sobrancelha


Álcool nas feridas dói um pouco
Dedo na ferida mais ainda
Mas que se há de fazer, minha linda?
Há feridas e há alcoóis
E há dedos impiedosos
Mas no mundo há coisas boas também
Existem elementos maravilhosos
E posso vê-los todos em seus olhos...

Fernando Lago – Janeiro de 2010

18 de agosto de 2012

Balanço




Balanço de alegrias e tristezas
É peso
Aquilo que mais vem
Não sei se o que tenho é lamúria
Ou se a lamúria é que me tem

Na vida suspiro a valer
Não digo que sou triste ou desgraçado
Eu sei que a vida é coisa passageira
E há já menos futuro que passado

Se são proféticas minhas palavras?
Não sei, mas por aqui se morre às favas
E me surpreender não é surpresa

Não sei por que alguém terá certeza
De que a própria cova não se cava
No decorrer da vida sem defesa

Fernando Lago – Agosto de 2012

15 de julho de 2012

Alea

Imagem: sistema de buscas da internet 


Eu não acredito
Em superstição
A morte
É a sorte
De toda multidão

Eu nunca leio horóscopo
No site ou no jornal
Já sei que o destino
É algo, assim, banal

Do caos absoluto
Eu não tenho notícia
E sei que é vitalícia
A minha ingratidão

A essa natureza
Que parece força
Que parece obra
E é o que me sobra
Nesta escuridão

Meu passo no espaço
É aleatório
O meu mundo imundo
E é satisfatório
Para todo esse fim
Que eu não faço ideia
De onde é que vem
Essa paixão ateia

A inércia é a vida
Dos inconsistentes
E eu - que não consisto
Em nada proeminente
Eu digo-lhe, nem tente
Me desconvencer
Que a derrota é certa
E não posso vencer 

23 de maio de 2012

Instant




No momento
Todos os momentos
São curtos
E a vida passa diante das minhas narinas
Como o cheiro do perfume de uma prostituta

Escuta
Não me importo com os escândalos do plenário
E com a vida profana dos polícias
Importo-me com minha vida, que é insossa
E precisa adquirir qualquer malícia

Viajo por caminhos tão medonhos
Que às vezes me assusto no espelho
E não me reconheço no meu rosto
Não sei a quem ou a que me assemelho

Prefiro a infâmia que a glória
De não me acusarem coisa alguma
De não ter nada feito nessa vida
Senão nadar no Lago dos meus versos
Que em momentos tristes eu compunha

As alcunhas
Que sempre me puseram são devidas
De vidas invividas que eu deixei
Passou por minhas narinas desatentas
Qual cheiro do perfume de uma quenga
Que não é minha, mas me acalenta
Nos mais tristes momentos de ciúmes.

Fernando Lago – 03 de Maio de 2012

4 de maio de 2012

Lógus




Não estou alegre
Nem triste
Nem poeta
Sou um turbilhão de raciocínios ocos
Sequer penso em você, que era meu tudo
(Exceto agora, para mencioná-la)
E apenas ondas cerebrais passeiam o meu crânio

Porque neste momento, nada importa
Nem eu
Esqueço-me de tudo e de mim
E só a minha cabeça é que funciona
Com pensamentos puros e impuros
Com imprecisão da arma de um soldado
Que errante descarrega sua metranca

Por que este estado me acampa
Como se fosse um viajante insano
Que deixa sua bagunça onde para?
Quem sabe seja mais que acampado
Quem sabe minha cabeça é sua morada
E quando ele aqui reaparece
Só reivindica a terra que é sua
Como índio americano que exige
Um pouco do tanto que era seu.

Fernando Lago – 03 de Maio de 2012

21 de abril de 2012

Pegou a avenida e se foi... (segunda parte)




Nem pude me despedir, quando voltei, ela já tinha desaparecido. Pra ter certeza de que ela não fora uma ilusão, um anjo, ou qualquer dessas coisas extraordinárias que costumam aparecer nas estórias de cinema infantil, perguntei pro moço da pipoca se ele tinha visto a moça que conversava comigo havia pouco.

- Olha, ela entrou e saiu rapidinho. Foi embora.

- Embora?

- É, pegou a avenida e se foi.

Pegou a avenida e se foi... Eu poderia iniciar uma poesia ou uma música assim. Ou mesmo um romance. Surpreende? Já vi muitos romances surgirem a partir de uma simples frase. Mas seria um romance triste.
Não mais triste do que seria o de agora, mais de cinco anos depois do ocorrido da fila do fórum, quando ela passava por mim, num requebrar bem brasileiro, e fingia que não me reconhecia, ou pior, não me reconhecia de fato.

Vinha em sentido oposto, passou por mim e continuou caminhando, passo ritmado acompanhado de um toctoc sinfónico do salto na rua semipavimentada, cabelos balançando no compasso do som que os sapatos faziam: toda musical! Mesmo os elementos que não tinham nada a ver com a sonoridade necessária para a música, causavam esse efeito. Os olhos e o cheiro que ela deixava como rastro por onde passava davam uma vontade danada de sair cantando ópera pela rua. Tenho pra mim que ainda que eu não a reconhecesse de fato, faria o que fiz: dei meia volta e segui o rastro do aroma do seu perfume.

Fui parar num barzinho, ela estava sentada num daqueles tamboretões e já tinha pedido um gole de alguma coisa transparente que eu não sabia o que era. Sentei ao seu lado e disse oi. Ela respondeu com uma inclinação rápida de cabeça e continuou bebendo. Eu não sabia muito o que fazer. Ou eu falava alguma coisa ou saía dali. Não podia ficar sentado ao lado dela sem motivos, com essa cara de idiota que a natureza fez o favor de me dar, olhando pra ela calado. Seria estranho, talvez até assustador.

- Coloca uma dose daquilo pra mim – falei apontando pra uma bebida qualquer. A moça me olhou, o balconista também. Amarelei, devia ser alguma coisa muito pesada.

- Melhor não – ri, disfarçando – vou dirigir daqui a pouco. Me traz apenas um conhaque.

Foi por pouco. Onde eu estava com a cabeça? Conhaque e vinho eram as únicas coisas que eu conseguira beber até então.

Evitei olhar muito pra ela, poderia se assustar ou se irritar. Mas estava linda, uma mulher verdadeiramente! Mas como puxar assunto? Talvez se eu dissesse: “você cresceu, hein!” ou “Nossa, você está uma mulher!”... Não, muito “tio”. Eu tinha que dizer algo criativo, algo novo, algo surpreendente...

- Está calor, não é?

Genial! Falar do tempo. Isso sim é inusitado.

- Até que não...

Ótimo. Trocamos algumas palavras. Agora eu não sabia o que falar e o silêncio voltou a reinar.  Mais uma dose, mais uma olhadinha, como estava linda! E me olhava, com expressão intrigada...

- Por que você tá me olhando assim? – perguntei, num ímpeto de coragem.

- Sei lá, parece que eu te conheço... De algum lugar.

- Será? Eu lembraria de uma mulher tão bonita.

- É, acho que também me lembraria do senhor.

Não tentem me entender, amigos. Não me perguntem por que eu não falei que ela estava errada, que ela já tinha me conhecido uma vez e agora não se lembrava mais. E que diabos era aquilo de senhor?

- Será? – foi o que eu disse

- Eu tenho a memória boa.

- Não que eu esteja duvidando disso, mas eu é que não tenho tanta importância assim pra ser lembrado.

Ela riu. Sim, mudara muito, tornara-se mulher. Mas um pedaço da menininha que eu conheci se mostrou naquele sorriso. E de novo eu tive vontade de casar com ela.

- Você tem um sorriso lindo.

- Obrigada. Você é daqui mesmo?

- Sou, estive viajando um tempo, mas voltei, agora...

A conversa estabeleceu-se. Quisera eu que fosse eterna. Talvez a continuação da conversa eterna interrompida pelo fim da fila do fórum. Ela ainda mantinha as convicções, defendia a causa das mulheres e formulava ainda melhor as críticas e as soluções que achava pros problemas.

- Era muito fácil, mas nenhum governo quer!

A conversa foi maravilhosa, como a outra tinha sido. Mas, como vocês bem sabem, uma garrafa de conhaque dura muito menos que uma fila de serviços de fórum. Mal virei para pedir outra e ela já tinha se levantado... Ainda estava na porta quando notei e falei alto:

- Você já vai?

- Já. Foi um prazer te conhecer. Quem sabe a gente se vê por aí de novo.

- Tomara. Foi um prazer te conhecer também.

Caminhei até a porta e acompanhei com os olhos os passos dela se afastando, seu rebolado automático de mulher bonita e os cabelos que se balançavam ritmados. Já não se podia ouvir o toctoc dos sapatos, mas mesmo assim ela era toda música. Música visual. Meus olhos seguiram seu balançado até o momento em que ela, mais uma vez, pegou a avenida e se foi.

Foi a primeira mulher que eu conheci duas vezes. E vivo esperando uma terceira.

Fernando Lago - Abril de 2012 

17 de abril de 2012

Pegou a avenida e se foi... (Primeira parte)




Passou por mim, virou a esquina e nem percebeu quem eu era. Estava linda, ainda mais do que antes. Mudara bastante, tinha mais corpo, as curvas eram mais adultas e o rosto de menina agora transmitia uma forte expressão de dona do mundo. Eu, no entanto, mudei pouco, quase nada além de uns três ou quatro novos fios de cabelo branco que surgiram no alto da minha nuca. Inacreditável que não tenha me reconhecido.

Era adolescente quando nos vimos pela primeira e última vez. Já era bela, mas tinha as pernas finas e os seios mal começavam a arredondar-se. Mas o que me impressionou nela foi a doçura e inteligência com que conversava sobre as coisas diversas que vinham, no um-assunto-puxa-outro que iniciamos naquela calçada. Política, cultura, a situação econômica do país... Ela discorria sobre tudo isso com ligeiríssimos sinais de irritação quando se referia às autoridades competentes de cada área. Chegou a cuspir no chão quando pronunciou o nome do Ministro da Educação. Mas não demorava a voltar à doçura de sempre, apresentando uma solução utópica para o problema, mas admirável para uma adolescente que tinha acabado de sair do ensino fundamental.

Os fervorosos militantes da moralidade moderna me censurarão em pensamento e em palavras, com certeza, mas devo confessar que desejei, naquele instante, casar-me com aquela menininha de quinze anos. Desejei tê-la pra sempre comigo, ouvindo suas histórias e protestos.

Há poucos anos isso não seria um absurdo. Homens de quase trinta casavam-se aos montes com meninas de quinze. Creio que foi esse o pensamento do senhor que vendia pipocas à porta do fórum, quando disse:

- Não vai comprar uma pipoquinha para a sua senhora?

Que me importava a ausência de formas diante daquele sorriso, que ela apresentou tão logo o senhor terminou a frase? Eu que tinha um padrão de beleza tão exigente: curvas, seios, traseiro, agora me rendia totalmente àquele sorriso de menina.

- Não somos casados não, tio – disse ela simpaticíssima ao velho – eu nem tenho idade pra isso!

A fila do fórum andava. Deu vontade de perguntar o que uma garotinha de quinze anos fazia ali, mas achei melhor não saber. Estávamos sentados na calçada enquanto a fila estava parada, agora que ela começava a andar, ficamos automaticamente de pé, sem pensar ou dizer nada, como uma atitude natural dos nossos membros.

- E você não tem namorado? – perguntei

- Eu sou muito nova...

- Muitas meninas de quinze anos namoram. Até mais novas.

- Mas eu não quero.

- Entendo.

- E você?

- Eu o que?

- Namora?

- Não.

- Quando for namorar, não escolhe uma menina muito nova.

- Por quê?

- Porque ela não te entenderia, você é inteligente. Você só ia se decepcionar.

- Mas muitas meninas são inteligentes, olha você, por exemplo.

- O pessoal acha que eu falo demais...

- É, você é tagarelinha mesmo, mas eu adorei você.

- Também gostei de você. Na verdade a maioria dos meus amigos são mais velhos...

- É porque você tem uma inteligência acima da média – ri – você tem um futuro muito promissor, com certeza.

Não gosto de clichês, mas esta foi a única frase que me acudiu naquele momento. Ela riu de novo e eu, mais uma vez, desejei que aquela criaturinha ficasse comigo pra sempre. E é agora que os moralistas hão de me crucificar: desejei tê-la ali mesmo, naquela fila do fórum. Felizmente o abismo entre o desejo e a ação sempre foi suficientemente grande em mim, é o que faz muitos homens serem bons.

- Você é culto – disse ela – isso é raro nessa cidade.

- Não sou culto, apenas reflito algumas coisas.

- É muito bom encontrar alguém pra se ter uma conversa agradável numa fila a essa hora do dia.

- Eu digo o mesmo, espero que possamos nos ver novamente.

- Eu também. Olhe, é a sua vez.

A parte que é, em geral, a mais desejada da fila, naquele instante foi a mais odiada. Naquele momento, eu queria uma fila eterna... 



Fernando Lago - Abril de 2012

14 de fevereiro de 2012

Naturalmente...*

Imagem: estação rodoviária de Teixeira de Freitas - Original: http://onibusbrasil.com/foto/72296/



Sei que o destino do amor
É sempre a despedida...
(Tereza Cristina e Pedro Amorim)


Diariamente ia ao portão da rodoviária no horário em que chegava o único ônibus que vinha de Salvador. Sempre com a esperança de que você fosse sair pela porta com uma grande mala dizendo-se arrependida de ter ido embora e que a capital não era o que esperava e que sentia minha falta e que precisava de mim e que... Qualquer desculpa, meu deus! Qualquer motivo, desde que voltasse.

Mal a gente tinha se conhecido e parecia se completar. Como se nós fôssemos partes de um mesmo todo, partículas que vagaram muito e muito pelo universo, errantes pelas galáxias perdidas, desviando de buracos negros e pegando carona em asteroides e meteoros, até serem atraídas, uma pela outra, para este planeta estranho e mal habitado. É assim que nos imaginava: não apenas duas almas gêmeas, mas uma só alma, separadas pelo destino, pelo cosmos, ou sabe-se lá o que.

Parece estranho? Você riria, certamente. Eu sei que riria... Porque eu sempre critiquei a sua crença nos horóscopos do jornal. Mesmo eu rio. Acho que a sua falta fez eu me apegar a qualquer coisa que me traga sua imagem...

Já que você não está, tudo que tem qualquer relação com você, com sua essência, com seus costumes, parece me atrair. Como aquela agulhinha que se magnetiza, quando deixada algum tempo perto de um imã, sabe? Transforma-se também ela em um imã. Você magnetizou tudo aquilo que tocou nesta casa. E agora tudo me atrai naturalmente, como naturalmente você me atraía. Naturalmente... Como se a existência de um estivesse condicionada à do outro. Isso. Você era a condito sine qua non da minha existência...

Sei que você está rindo nesse momento, enquanto lê essa carta, provavelmente ao mesmo tempo em que se maquia para ir a alguma festa no Rio Vermelho ou na Ondina ou em qualquer desses lugares que tem festa na Soterópolis. Sim, lendo e se maquiando. Essa versatilidade que sempre admirei. Sei que você abriu sem muita empolgação e leu bem rápido, pra não perder a hora de se divertir. E riu das minhas palavras, porque meu sentimentalismo repentino é uma piada pra você agora... Sei disso tudo e me pergunto: por que insisto? E nunca sei me responder... A verdade é que vou percebendo, mesmo sem querer, que não havia nada de natural na nossa união. E a única coisa que aconteceu naturalmente mesmo foi você ter se cansado de mim...

Fernando Lago – Janeiro de 2012

*Texto publicado no blog da Confraria dos Trouxas, a convite de Flávia Queiroz 
Os fatos relatados no conto são meramente fictícios.

22 de janeiro de 2012

Inventário




Nada tenho
A não ser
Este intenso sentir
Que me acompanha toda vida
E que ora, comigo
Deixa também de existir

Essa coleção de afetos
Guardada
Em qualquer desses armarinhos
N’algum canto bem discreto

Uma ruma de decepções
Que se perdem
Em qualquer ausência
De minhas realizações

E o sorriso emoldurado
Que um dia
Alguém, homem ou mulher
Encontrará empoeirado
E indagará de quem é

Fernando Lago – Janeiro de 2011

18 de janeiro de 2012

Ouço uma rajada de vento...



Ouço uma rajada de vento
Que será que quer dizer
Com elegante insistência?
Paro e escuto o evento
Do vento acariciando
Os pássaros no fio de energia
E fico pensando
Que bom seria
Se o merecêssemos também

Como uma musa provocada
Por uma infame cantada
O vento jogou-me na cara
Meio quilo de poeira...

Janeiro de 2012