14 de setembro de 2010


Amanda ficou pensativa e falou como se estivesse sozinha na sala:

- Minha vida com o Marco foi uma tragédia. Os homens não podem nos aceitar como somos. Estão sempre querendo nos transformar. Quando conseguem, e a mulher se adapta, se modifica, aí os miseráveis entram em parafuso, ficam possessos, gostariam que ela não fosse mais aquilo em que a transformaram. O ideal seria que a mulher voltasse a ser exatamente como era no tempo em que se conheceram.

- Como é essa história?

- Esquece. Deixa pra lá. Os homens só dão aborrecimento, sabia? – Amanda soltou uma gargalhada. – Todas as mulheres que conheço adoram se chatear, têm um lado masoquista, só estão felizes quando estão infelizes. Eu também. Eu me incluo nesse grupo. Por que você está me olhando com essa cara de espanto?

Leonardo riu:

- Estou me lembrando daquele personagem do romance de Roberto de Aquino, aquele professor de matemática que vivia de porre e dizia a toda hora que, numa equação, num problema, a mulher é sempre a incógnita. Quem se envolve com uma entra um labirinto do qual nunca mais conseguirá sair. Você já ouviu falar na linguagem dos pássaros?

- Que diabo é isso?

- É uma dessas teorias orientais. De acordo com a linguagem dos pássaros, os relacionamentos entre homem e mulher se processam inevitavelmente em sete etapas: busca, encontro, alegria, deslumbramento, dependência, demência e desenlace. Desenlace, no caso, quer dizer a morte. Quem não tiver consciência dessas sete fases e se deixar envolver termina se estrepando.

- Babaquice, Léo. Babaquice.”

NASCIMENTO, Esdras do. A Dança dos Desejos, opus 13. A Girafa, 2006. 

Um comentário:

  1. Oi Romeu! Eu adorei o texto.
    E sabe que não achei babaquice a coisa aí dos pássaros, é bem interessante!

    Beijos, todos!

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