Quem, por que, pra que?



Quando estou realmente triste, prefiro calar-me. E imperam as palavras nas minhas folhas, nos meus cadernos e na área de trabalho do Word; dizendo isto ou aquilo de mim. Coisas que podem ser verdadeiras ou não... Já me chamaram de cara-de-pau, outros não foram assim tão piedosos. Alguns, mais “intelectuais”, dizem que “há uma aura de mistério naqueles textos” porque neles eu “falo sem falar”. Em suma, isso tudo quer dizer uma só coisa: “Seus textos são uma merda, eu não entendi porra nenhuma, mas vou elogiar porque você é meu amigo.”

Na verdade, se me perdoam a franqueza pós-cachaça-sem-alcool, eu estou pouco me lixando. Não tenho que explicar tudo a todos; essa é a graça da vida! Se Drummond fosse explicar todas as suas poesias, não teria graça nenhuma. Não que eu esteja me comparando a Drummond; seria um sacrilégio poético, um despautério literário. Mas suponhamos que eu seja um poeta; suponhamos também que eu seja um bom poeta; suponhamos ainda, já abusando da nossa imaginação, que há quem leia e aguente estas e tantas outras baboseiras que saem da ponta de minha caneta... É que, na verdade, gosto de ser inexplicável.  Só se é explicado o que está pronto, e eu mudo a cada minuto.

Sou chato; sei disso. Mas vivemos num mundo de chatos. Reinam nesta vida as coisas chatas. E, na verdade, chatos existem aos montes para criticá-las. Cabe-nos apenas a nós, chatos pensantes (??) salvar a humanidade. Mas isso também não importa agora. Porque, meus amigos, se vossas senhorias me acham chato, ainda não conheceram os meus fantasmas. Eles sim. Secos, irônicos e extremamente desligados das coisas da vida. Eles sim. Fantasmas que me assombram de madrugada, quando a solidão está a fim de papo e se dispõe a ajudá-los na empreitada de me fazer imaginar coisas e as transpor ao papel. Fantasmas e solidão... Formação de Quadrilha.

Adaptado de Ensaio sobre Coisa Alguma, texto de 25 de Janeiro de 2010.