30 de agosto de 2013

Portfólio

Imagem: The Poet, 1938, de Thomas Hart Benton (Fontehttp://pinterest.com/tmaxey01/fine-art-thomas-hart-benton/

Escrevo uma poesia
Que de mim nada me diz
Não me autoanalisa
Nem descreve algo que aflige o mundo

Escrevo uma poesia muda
Que sendo muda
Em sua mudez não estimula a mudança
Que desnuda
Em sua nudez se apresenta sacrossanta

Escrevo uma poesia natural
Selvagem como uma onça amazonense
Arredio como os rios e afluentes
Sem barreira hidrelétrica que os controle

Escrevo uma poesia fresca
Como as manhãs de uma praia sul-baiana
Como o pão, o peixe ou o café
Fresca como a vida, como a morte repentina
Fresca, fresca, fresca!

Escrevo uma poesia moça
Que encanta com seus olhos, seu brincar
Que me ofende, que me bate, que me lambe
Que me ama ostentando o contrário
E o contrário do contrário eu enxergo

Escrevo uma poesia arisca
Que me foge sempre que me vê chegar
Que me explode, me acode, me retalha
Isso tudo sem exprimir sequer um som
Escrevo uma poesia quieta
Que não exprime emoção e nem sorrir

Escrevo uma poesia
Escrevo uma poesia morena
Que me explode num encanto tropical
Que me encontra em carnavais desse seu mundo
Que me pula, me estimula, me escapole

Escrevo uma poesia
E choro
Escrevo uma poesia
E rio
Escrevo uma poesia assim
Ou a poesia é que me escreve a mim?

Um comentário:

Não alimente o Fantasma do Silêncio. Expresse-se.