(...) - Sou sua prisioneira, mas você quer que eu seja uma prisioneira feliz. Só posso pensar em duas possibilidades: ou pensava obter algum resgate, ou então faz parte de um bando ou qualquer coisa desse gênero.
- Já lhe disse que não era isso.
- Você sabe muito bem quem eu sou. Deve saber que o meu pai não é rico. Não creio, pois, que se trate de resgate.
Senti um arrepio ao ouvi-la pensar em voz alta.
- Só resta a possibilidade de se tratar de um caso sexual. É muito provável que me queira fazer alguma coisa.
Miranda observava-me.
O comentário chocara-me.
- Não é nada disso. Vai ver que lhe mostrarei todo o respeito. Não sou desses – redargui, bastante friamente.
- Então, você deve ser um louco – disse ela. – Um louco gentil e amável, claro. (...) Por que razão estou aqui?
- Queria que você fosse minha convidada.
- Convidada?
(...) Tinha o cabelo penteado uma comprida trança. Estava muito bela. Parecia corajosa também. Não sei bem por que, mas imaginei-a sentada nos meus joelhos, muito quieta, comigo a acariciar-lhe os cabelos, inteiramente soltos, como daquela vez que a vi assim.
De súbito, quase sem pensar, disse-lhe:
- Estou apaixonado por você. Estou quase louco de amor.
- Já compreendo tudo – disse ela, num tom de voz muito baixo e sério.
Depois disso, não me voltou a olhar.
Já sei que é antiquado fazer uma declaração dessas a uma mulher, e nunca tencionara faze-lo. Nos meus sonhos, olhávamo-nos sempre, ternamente e beijávamo-nos sem ser preciso falar. Um conhecido meu chamado Nobby disse-me, uma vez, que nuca se devia dizer a uma mulher que estamos apaixonados por ela, mesmo que o estivéssemos. E se fosse preciso, explicara-me ele, a melhor coisa seria fazê-lo de brincadeira, gracejando. O mais estúpido é que eu disse mil vezes a mim mesmo que nunca o faria e que deixaria a coisa acontecer normalmente. Mas sempre que estava a sua presença, eu ficava muito confuso e dizia coisas que não tencionava dizer.
John Fowles – O Colecionador.