25 de fevereiro de 2011

Apneia




Não sei que figura me fazem
Não sei o que vêem em mim
Não vejo o que vêem os olhos que vejo me olhando nos olhos

E, no entanto, pouco me importa
A indiferença que tenho comigo
Me faz indiferente dos outros
Mas dói-me me serem indiferente
A ninguém mais dou esse direito senão a mim
A mim!

A mim me coube decidir não me valer
A mim me coube optar por não me ver
Que me agüentem os que me querem ainda aqui
Que me suportem a imagem ante os olhos

Preencham – malucos! –
Todos os requerimentos e os atestados de responsabilidade
Que eu já não me agüento comigo
E é bom dividir o fardo que sou

Mundo!
Vida que me tem
Sopro de brisa restante que circula ao redor de minhas narinas
Resto de luz que ainda reluz no olhar de quem me olha
Benza Deus!
Quantos olhos bonitos!
Quero dormir iluminado pelos olhos que me amam

Basta!
Fechem-se os olhos
Ou ao menos metade deles, por um instante sequer
Vamos economizar energia
Vamos guardar luz pra quem realmente merece
Pra quem merece mais que eu

Sejamos poupados
Sejamos econômicos
Porque a vida, nobres meus
Num instante se apaga
E é preciso redescobrir tudo
Pedra, cambito, faísca
Redescobrir a combustão
Para acendê-la de novo

Dancemos, pieguentos
Dancemos sob o vento frio da madrugada!
E troquemos beijos de adeus e de olá
Recomecemos o mundo!
Recomecemos a povoação do vale
Plantai, plantai!
Recuperemos o solo e montemos cabaninhas à beira do Lago
Bem altas
Prevenção aos enchimentos transbordantes de às vezes
E cantemos
Porque o mundo nasceu pra ser cantado

Fernando Lago
Teixeira de Freitas, 08 de Fevereiro de 2011 

3 comentários:

  1. As vezes eu acho que viver bem é simplesmente viver sem esperar....

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  2. Viver, cada um a seu modo, com seus anseios.
    Gosto dos seus sentimentos grafados!

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  3. Gosto demais disso!

    'Recuperemos o solo e montemos cabaninhas à beira do Lago'

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