A persistência da Memória. Salvador Dali.
Se o ontem viesse ao hoje
Será que tu vinhas junto?
Assim, tu e eu
Dadas as mãos e as cabeças encostadas
Navegando nos ponteiros do relógio e nas folhinhas do calendário
Confiando no timoneiro – o destino
Não tendo tempo pra pensar no tempo
De tanto pensar em nós dois
Ah!
Não virias!
Duvido que viesses!
Mata virgem são os algarismos
Dos dias e meses que pensei serem nossos
Não eram
Não foram
Nunca serão!
A urbanização é tentadora
Quem há de querer aventurar-se numa mata virgem
Cheia de perigos?
Tu é que não!
Adentrei sozinho
No universo anacrônico da poesia passadista
E fiquei preso no passado pré-histórico de nós dois
Num tempo em que o amor se revelava sublimemente
Na nossa saída nômade à caça de palavras
No nosso bater de pedras
Às vésperas da descoberta do fogo da coesão
A única coisa que nos unia
A colheita de elementos enriquecedores
Poéticos
Paranominais!
Que viagem!
Que viagem!
Supus, tolo
Que tivesses embarcado em outro barco
Que farias uma rota diferente
(Cabral ou Vasco da Gama)
Mas que no fim de tantos mares cronológicos cruzados
Os nossos destinos atracariam juntos
E nos encontraríamos, inevitavelmente no mesmo porto
Fiz a viagem sozinho
Sozinho cheguei ao passado
E tu não estavas lá
Sigo, junto a homens pré-históricos
Pensando na minha sina
No presente não te tenho
No passado não estás
Não existe futuro
De modo que
Preso neste passado em que não te encontro
Nada me resta senão assumir o meu anacronismo
Obsoletismo, arcaicismo, classicismo
Idiotismo total-tradicional
Sentarei numa montanha
Aguardarei de lança na mão a próxima manada de mamutes chegar
E amanhã, se não nevar
Levantarei bem cedo e inventarei a roda.
Março de 2011
O Destino não passa de um trombadinha!
ResponderExcluirGosto das suas palavras!
Maravilhoso!
ResponderExcluirMinhas palavras aqui desmaiaram, quase todas ;)
Que fique registrado que li e amei... e senti...
E se tudo pode ser esquecido... Sempre podemos recomeçar... Bárbaro!
Beijocas-fãs