Eu que me aguente comigo
E com os comigos de mim...
(Álvaro de Campos)
Dê-me um minuto
Para que eu me convença
De que essa imaterialidade
nos levará
A algo de real nesta vida
Deixe-me falar comigo
Metido em minha cadeira de
canto de sala
E tentar pregar a mim a
confiança nas trivialidades
De Deus ou do destino
Crê que não será fácil
Conheço-me muito e pouco
E a um tempo sei que não
acreditarei de primeira
Nas minhas próprias
palavras
Que dizer-me?
Não tenho o dom da
oratória
Que argumentos lançar-me
ao rosto?
Não sei ser persuasivo nem
comigo mesmo
E tenho pra mim tão pouca
consideração
Que provavelmente darei um
muxoxo
Com o olhar em outra coisa
mais importante
Que eu...
E convencido de que não me
convenço
Resignado de que não me
agrado
Baixarei os olhos e sairei
calado
Ou me direi verdades que
já conheço
Ou me atracarei comigo diante
dos olhos surpresos
Daqueles que não são eu
Sou imprevisível.
Sei que na minha infância
– períodos de beleza
diária
Amava-me como a mim mesmo
E embora brigasse comigo
As pazes já não tardavam
Agora que não sei mais
quem sou
Ou o que sou
E ando nas ruas catando
fragmentos do que fui um dia
Retalhos do que hei de ser
Agora quem sabe me
reconstrua
Se conseguir convencer-me
de que valho a pena....
Dezembro de 2011
Maravilhoso... Parece que estava descrevendo como eu estou hj... Obrigada por escrever! Larissa
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