Ele estava sentado olhando pro nada, porque não tinha nada mais pra olhar naquele lugar, posto que ficava no meio do nada. É difícil de acreditar, mas em determinados momentos em que nada passa por nossa cabeça não há nada mais interessante do que o nada para contemplar. Ato filosófico. Pura e unicamente porque no nada só pode-se ver o nada. E o nada é fascinante.
Não fumava. Não comia. Não praticava ioga com os pés nas orelhas. Não mastigava um Trident de melancia nem revirava na boca uma balinha de maçã verde qualquer. Não cofiava o espaço ocupado há algumas horas por seu bigode, porque nada mais havia ali para cofiar – barbeara-se havia pouco. Não fazia nada. Só contemplava o nada. Pensando em nada e fazendo nada... E a filosofia desse ato ingenuamente sábio e completamente vazio era coisa que se encontrava apenas no nada.
Nada!
Ele olha o relógio. Passara três minutos. Um passarinho voou da cerca elétrica que estava desligada e, portanto nada causou ao corpo da ave. Um bando de periquitos silvestres e gritantes atravessou o céu avisando, pelos granares, que estavam passando. Isso já não existe em muitos lugares. E nós é que não temos nada!
Meio minuto mais! A bela moça se aproxima. O sorriso dela é no olhar. E no andar. E até mesmo no sorrir! Dá-lhe um peteleco e pergunta se não acha que está tarde demais para ele ficar ali na varanda. Dali a pouco escurecia e vinha sereno! Ele a olha com o nada restante do olhar, ora preenchido pelo reflexo da beleza da moça que poderia ser sua e diz:
“Que nada!”
Fevereiro de 2010
Às vezes o nada é tudo o que nos resta.
ResponderExcluirAdorei o texto! :)
Acho em algumas vezes que qdo a gente encontra respostas no NADA, é pq o TUDO não nos basta...
ResponderExcluirGdes beijos!
Que blog simplório, ow?! rss
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