23 de janeiro de 2011

Cupidóide

Imagem: http://migre.me/3Jiyv


O destino de todo cupidóide é apaixonar-se violentamente. Seu rabo possui uma seta, a qual está embebida da essência divina do amor. Como seu rabo é curvado, ele sempre espeta a si mesmo. A característica desse veneno é que a pessoa se apaixona pela primeira coisa que vê, seja ela o que for. Assim, temos vários casos de cupidóides apaixonados por pedras, caixinhas de fósforo, tampinhas de refrigerantes, moedas, ou mesmo por pontes e automóveis. E como na maioria dos casos ele, dificilmente, tem seu amor correspondido, o cupidóide é um espécime terrivelmente amargurado e sofre de um ciúme doentio. Um cupidóide se apaixonou por um guardanapo de papel, que tinha impressa uma boca de batom. Como não recebeu nenhuma atenção do ser amado, passou a vigiá-lo em toda parte por onde o vento o carregava, até que o guardanapo foi parar no rio e o cupidóide morreu afogado. É, como se vê, uma espécie terrivelmente estúpida, sem nenhuma resistência e em vias de extinção.

Tacus. A criação das criaturas. São Paulo: Ibrasa, 1985. Texto condensado.

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