Jogo esta carta escrita
em papel leve, com tinta suave como sua pele, na esperança de que o vento a
faça chegar até você.
Não sei bem o que
aconteceu da última vez que nos vimos, Lila, não compreendi direito. Ou talvez
até tenha entendido, mas uma parte do meu cérebro tenha se recusado a
memorizar... Não sei. Não entendo muito bem de biologia, você sabe.
Sei que desde que você
se foi sem dizer tchau, adivinhei que você demoraria a voltar. Ou talvez não
voltasse mais...
Sei que te cansei com
minhas cobranças. Sei que muitas vezes falei coisas terríveis sobre você. Mas,
Lila, a cabeça dos homens funciona assim. E você sabe, Lila, por mais diferente
que você me queira, eu sou igual. Igual a todos os homens. Insensível,
ciumento, possessivo; e essa bolha de ciúmes que fui deixando encher a cada
partida sua explodiu naquele dia em que eu insinuei que você devia ficar presa a
mim.
É, Lila... Sou um
homem. Vê? Quando nos encontramos pela primeira vez eu não passava de um
menino. Mas um menino que aprendeu com você a arte de amar. Mas confesso, Lila,
que aquela coisa de liberdade que eu disse que tinha aprendido a respeitar foi
puro fingimento. Se você fizesse uma prova de verificação perceberia que eu não
teria rendimento nenhum. Fingi pra não te perder. Mas a cada partida sua eu
ficava com medo de não te ver nunca mais. Você não era um passarinho, Lila. Eu
não podia te engaiolar. Mas era esta a vontade que eu tinha cada vez que te via
saltar daquele jeito e se misturar ao horizonte, para voltar depois cheia de
saudades.
Nunca te contei, mas
muitas vezes me peguei imaginando se não haveria por aí outras cidades
pequenas, com outros edifícios pequenos, com outros meninos tristes que te
encontrariam no fim de outras tardes para que você contasse todas as coisas que
me conta, ou mesmo outras coisas. Essa possibilidade me enchia de ódio de você,
Lila. Mas passava rápido.
Quando você demorava de
chegar esses pensamentos vinham com tanta força que eu dizia para mim mesmo:
“hoje vou ser frio com ela, ela não merece minha simpatia o tempo todo.” Mas
quando você surgia com esse sorriso que só você tem, prevalecia a vontade de
meus pés, que antes de eu pensar qualquer coisa, corriam para eu te abraçar e
lhe acariciar esses longos cabelos.
Confesso que ainda vou
ao prédio perto da escola, Lila. Pra que que eu ia mentir pra você? Vou lá
muitas vezes, tentar reviver nossas palestras particulares que o som dos carros
da avenida me fazem lembrar. Duas ou três vezes tive a esperança de que você
pousaria ali, sem mais nem menos e me diria: “Quanto tempo, senti saudades!”
mas não creio que isso vá acontecer...
O mundo é tão grande,
Lila! E você o fez tão pequeno. Do seu tamanho. Agora que você saiu, o espaço
não cabe ninguém além de você.
Não faço a mínima ideia
de como te encontrar. Você é livre, vai aonde quiser: você pode! Mas despejo
todas as minhas esperanças no vento que, se é seu amigo como você diz que é,
vai achar um jeito de levar às suas mãos este escrito tão saudoso.
Lila, menina que voa,
essa carta não é um apelo para que você venha e more comigo para sempre, sem
poder voar pelo mundo, como dei a entender da última vez. Não estou querendo
outra vez te prender na minha gaiola, Lila. Só estou confessando e reconhecendo
que há muito, muito tempo eu já estou preso na sua.
Seu,
Ricardo
Fernando Lago – Setembro de 2011
Ameiiiii Nando!!!
ResponderExcluir"Sei que desde que você se foi sem dizer tchau, adivinhei que você demoraria a voltar. Ou talvez não voltasse mais..."
Tomara que volte, e volte a ser exatamente como era antes de ir...
Beijoooo