Imagem: estação rodoviária de Teixeira de Freitas - Original: http://onibusbrasil.com/foto/72296/
Sei que o destino do amor
É sempre a despedida...
(Tereza Cristina e
Pedro Amorim)
Diariamente ia ao
portão da rodoviária no horário em que chegava o único ônibus que vinha de Salvador.
Sempre com a esperança de que você fosse sair pela porta com uma grande mala
dizendo-se arrependida de ter ido embora e que a capital não era o que esperava
e que sentia minha falta e que precisava de mim e que... Qualquer desculpa, meu
deus! Qualquer motivo, desde que voltasse.
Mal a gente tinha se
conhecido e parecia se completar. Como se nós fôssemos partes de um mesmo todo,
partículas que vagaram muito e muito pelo universo, errantes pelas galáxias
perdidas, desviando de buracos negros e pegando carona em asteroides e meteoros,
até serem atraídas, uma pela outra, para este planeta estranho e mal habitado.
É assim que nos imaginava: não apenas duas almas gêmeas, mas uma só alma,
separadas pelo destino, pelo cosmos, ou sabe-se lá o que.
Parece estranho? Você
riria, certamente. Eu sei que riria... Porque eu sempre critiquei a sua crença
nos horóscopos do jornal. Mesmo eu rio. Acho que a sua falta fez eu me apegar a
qualquer coisa que me traga sua imagem...
Já que você não está,
tudo que tem qualquer relação com você, com sua essência, com seus costumes,
parece me atrair. Como aquela agulhinha que se magnetiza, quando deixada algum
tempo perto de um imã, sabe? Transforma-se também ela em um imã. Você
magnetizou tudo aquilo que tocou nesta casa. E agora tudo me atrai
naturalmente, como naturalmente você me atraía. Naturalmente... Como se a
existência de um estivesse condicionada à do outro. Isso. Você era a condito sine qua non da minha
existência...
Sei que você está rindo
nesse momento, enquanto lê essa carta, provavelmente ao mesmo tempo em que se
maquia para ir a alguma festa no Rio Vermelho ou na Ondina ou em qualquer
desses lugares que tem festa na Soterópolis. Sim, lendo e se maquiando. Essa versatilidade
que sempre admirei. Sei que você abriu sem muita empolgação e leu bem rápido,
pra não perder a hora de se divertir. E riu das minhas palavras, porque meu
sentimentalismo repentino é uma piada pra você agora... Sei disso tudo e me
pergunto: por que insisto? E nunca sei me responder... A verdade é que vou
percebendo, mesmo sem querer, que não havia nada de natural na nossa união. E a
única coisa que aconteceu naturalmente mesmo foi você ter se cansado de mim...
Fernando Lago – Janeiro de 2012
*Texto publicado no blog da Confraria dos Trouxas, a convite de Flávia Queiroz
Os fatos relatados no conto são meramente fictícios.
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